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Fábio Lilla, o Midas revolucionário da advocacia

Faz dez dias que a ideia de escrever sobre Fábio de Campos Lilla me veio à mente. No começo de uma reunião sobre a estrutura do escritório, os sócios, novas tendências da advocacia, dentre outros temas, fiz menção à importância dele na minha vida profissional. Fiquei emocionado, ao rememorar o quanto ele me ensinou sobre gestão, clientes, honorários e estratégias. Pensei como há pessoas que aparecem para nos transformar, nos instruir sobre os segredos do ofício, do negócio.


No Lilla, Huck e Malheiros, criamos o primeiro setor de business crime em um escritório full-service no Brasil. No ano de 1993, de diálogo em diálogo, Fábio abraçou o projeto e daí mudou meu pensar e agir na advocacia. Era o mestre com frases marcantes: “Advocacia é militância”; “Não existe advogado sem cliente”; “Planejamento fiscal, às vezes, lembra o Kama Sutra: um esforço exagerado para um fim bem conhecido”.

Professor da Fundação Getúlio Vargas, Fábio amava as aulas e a Escola. Formado na PUC/SP (1970), construiu sólida fama na advocacia tributária e em grandes conflitos societários. No escritório Mattos Filho, onde antes foi sócio, experimentou um modelo de gestão que rendeu frutos para muitos.


Ele não pensava na mais-valia dos jovens advogados. Ao contrário, acreditava que gente bem remunerada trabalha mais. Isso fez com que dezenas trabalhassem até altas horas durante a semana, nos sábados e nos domingos, para produzir e ver o resultado econômico se coletivizar. Na década de 90, éramos os mais felizes workaholics: Antonio Carlos Monteiro da Silva Filho, Paula Andrea Forgioni, Marcelo Batuíra da Cunha Losso Pedroso, Mariana Cortez, Eduardo Secchi Munhoz, Maria Olímpia Correa Carneiro, Fernanda Pécora e muitos mais.


Mas não era apenas a participação nos honorários que nos unia. Com a perspectiva de bom italiano, reunia os jovens em sua casa, nos almoços aos sábados, para experiências gastronômicas de massas, molhos, antepastos e vinhos. Dessa forma, agregava. Isso não o impedia de passar missões de trabalho no curso do banquete, a serem executadas com urgência. E tudo, com alegria e manifestação de amizade. 


Tudo nele era inovador para nós, alguns “quadrados” recém-formados do Largo de São Francisco. Não existia trejeito bacharelesco, vocabulário rebuscado, formalidade no trato. Nas reuniões, atendia as pessoas, vestindo calça jeans e camisa polo, volta e meia, respingada com molho ao sugo da refeição. Raro, vê-lo de terno. Não queria impressionar o cliente, salvo pela sagacidade, inteligência e conhecimento jurídico. Adorava contar histórias, até piadas, que animavam os empresários e altos executivos, exauridos com a arrogância e chatice dos sócios das grandes bancas da época. 

Diversas vezes, em viagens internacionais, ligava com novas propostas, instruções, sugestões para as causas, análises do mercado. Para ele, o advogado não possuía férias que permitissem esquecer dos casos e dos clientes. De qualquer lugar, retornava as ligações do dia, mandava faxes e cuidava do time.


Este exemplo marcante não escondia o gênio forte. Tinha lá seus desafetos. Vez ou outra, brigava com um amigo, ou próximo, mas era na reconciliação que o humano despontava. Ficamos um tempo sem nos falar. Meses depois nos encontramos, eu disse que era grato pelo quanto ele me transmitiu de ensinamentos, por esse jeito prático de ver a advocacia. Rimos e nos abraçamos, cada qual a disfarçar o sentimento forte do reencontro.


Escrevo para deixar o registro na memória dos advogados de hoje: Fábio Lilla revolucionou o padrão das relações nas sociedades de advogados, ao valorizar os mais novos e ao repartir resultados econômicos, de maneira transparente.


Por trás do empresário do Direito, encontramos também a figura, que, da vida, soube amar muitos prazeres (o estudo de história, a gastronomia, lindas mulheres), sem deixar de ser sempre profissional, dedicado aos clientes, aos processos, aos sócios.

Passados dois anos de seu falecimento, cumpro a obrigação com amigos e com Paulo Lilla de descrever personagem do meu tempo, cuja gratidão transborda o plano dessa existência. Fábio, muito obrigado.

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