Hoje, os advogados alegram-se ao ver a atuação de Hermes Marcelo Huck nos painéis arbitrais, do Brasil e do exterior.
Outra vez, preciso voltar aos Mestres. Passei do Pessach à Páscoa a organizar livros, fotos e documentos. Grande erro, em tempos sombrios do confinamento, mexer em caixas antigas. Resta apenas a certeza da razão do poeta Virgílio: Tempus fugit.
Mas se a relação com o tempo não pode se tornar culto ao passado, como alerta, com prudência, o estoicismo, isso não significa esquecer de quem nos puxou pelas mãos para o progresso pessoal e intelectual.
Exatamente, essa incursão me fez encontrar uma foto com o professor da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e meu preceptor da advocacia contenciosa Hermes Marcelo Huck. Fazia meses que eu já pensava em escrever sobre ele.
Sobram-me razões, as quais são compartilhadas por centenas de alunos, para elogiar o impecável mestre. A seriedade do curso, a didática na sala de aula, a atenção ao conversar com cada um ao final da exposição didática, o sorriso gentil diante das brincadeiras da estudantada.
Ele se mostra a combinação perfeita do que se espera de um mestre das Arcadas. Qualidade do ensino, rigidez nos exames, atenção com os acadêmicos nos diálogos e bom humor. Daí nosso comemorar no primeiro dia de aula, ao lermos no quadro de matérias e horários, afixado no pátio, que ele seria o professor do curso de direito internacional privado.
Esse modo de ser acabou por me convidar à leitura de seus livros. Em particular, sempre adorei Da guerra justa à guerra econômica (1996), muito embora advogados usem com frequência o clássico Evasão e elisão: rotas nacionais e internacionais do planejamento tributário (1997). Escrita simples, ideias claras, estrutura objetiva: qualidades que se repetiram na migração de estudos do direito internacional para o direito tributário.
No entanto, as habilidades do Mestre estendem-se à advocacia. Jovem advogado, trabalhei por anos, no contencioso civil sob sua batuta no escritório Lilla, Huck e Malheiros, hoje Huck, Otranto, Camargo. Recordo-me de suas correções nas petições. Reescrevia trechos à mão nas minutas impressas, conferindo limpidez, melhor retórica aos textos. O cuidado na descrição do fato e a forma fidedigna de interpretar os documentos ficavam como características marcantes de seu trabalho, evidente influência de seus estudos nos Estados Unidos da América, onde fez mestrado na University of California, Berkeley.
Embora sempre cordial no trato, bem me lembro das duras críticas que fazia, quando se cometiam, por exemplo, eventuais erros na descrição de imóvel no compromisso de venda e compra, ou nas primeiras declarações de inventário. A atenção como chave do conhecimento. Ele mesmo conferia detalhes, numa demonstração de que a revisão dos trabalhos judiciais não se resume na reescrita do texto, mas na aferição do conteúdo e dos documentos.
A forma disciplinada de advogado fez com que ele pudesse fazer tanto sucesso em litígios cíveis, em principal em matéria societária, como se tornasse uma das maiores referência no âmbito da arbitragem. Hoje, os advogados alegram-se ao ver a atuação de Hermes Marcelo Huck nos painéis arbitrais, do Brasil e do exterior.
Ao rememorar a figura marcante do meu passado, faço homenagem não tão só ao profissional, mas à pessoa que, na intimidade, sempre soube dar bons conselhos, contar ótimas piadas e ser exemplo de vencedor de obstáculos em todos os campos da vida em que militou.
Chag Sameach, Mestre!
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